Comecei a andar de moto quando moleque na fazenda. Meu avo dizia que era “ferramenta de trabalho” então eu só podia andar depois de expediente. Isso dava um gosto ainda maior quando estava em cima das duas rodas, deslizando nas curvas de terra e pulando nas curvas de nível espalhadas pela fazenda.
Anos depois comprei minha primeira moto em São Paulo para escapar do transito e para viajar. Comprei um Aprilia Pegaso 650 – uma moto com a geometria de moto de “cross” mas com carenagem para poder pegar estrada. Andava todo dia para ir ao trabalho e reuniões. Nos finais de semana enchia uma mochila de roupas e pegava a estrada.
Em 2006 fui para Nova Iorque fazer um mestrado em tecnologias interativas na New York University. Quando terminei o curso era verão e eu queria dar uma volta de moto. Impossível. Por causa do custo do seguro, simplesmente não há aonde alugar motos perto de Nova Iorque. Os únicos estados aonde existem motos para alugar são a Florida, Califórnia, e alguns estados do oeste Americano.
Um dia encontrei um amigo meu da faculdade com quem havia perdido contato. Começamos a falar de moto e ele imediatamente iniciou o processo de me convencer a comprar uma. Fanático pela Ducati, ele me levou na loja para mostrar a Hypermotard da Ducati. Linda a moto mas não era o meu estilo especialmente quando vi na loja a área das KTMs. Bati o olho na Adventure 990 e imediatamente me apaixonei. “Esse é meu estilo de moto!”.
Comprei a moto e andava com ela nos finais de semana com meu amigo e outros fanáticos de Ducati. Mas comecei a me frustrar pois os passeios eram sempre focados em velocidade e curvas. Eu queria estradas de terra, trilhas e fazer viagens mais longas.
Meu aluguel estava por vencer e tinha que decidir se renovava por mais um ano, procurava outro apartamento ou voltava para o Brasil. A crise já estava começando a chegar nos Estados Unidos, e a saudades do Brasil também. Ficava sonhando em pegar as estradas Brasileiras com a KTM – perfeita para a buraqueira e as infinitas trilhas de terra.
Numa conversa de bar um amigo me deu a idéia de ir com a moto ate o Brasil. Eu que adoro uma aventura abracei a idéia imediatamente. Para o desespero dos meus pais, comuniquei que iria fazer essa aventura. Comecei então a procurar alguém que quisesse ir junto. Não foi fácil mas no final achei um amigo meu do mestrado que tem família no Brasil e já tinha pensado e planejado em fazer esta viagem. Só não tinha feito por que o amigo com quem ele iria fazer a viagem não pode mais ir.
A moto dele estava em Los Angeles então eu teria que atravessar os Estados Unidos sozinho para encontrá-lo.
Fiquei dois meses planejando o que levar na viagem pesquisando equipamentos, eletrônicos, e dicas de quem já fez esta viagem. Sabia que a rota dava para planejar mas que seria alterada constantemente durante o percurso. Nunca se sabe o que vai acontecer. Meu parâmetro era basicamente a data que queria chegar no Brasil – antes do Natal – e quantos kilometros faria por dia – uma media de 500km por dia.
Parti no dia 2 de outubro rumo a Los Angeles. Acampei no primeiro dia para ver como seria fazer isso todos os dias da viagem. A conclusão foi rápida pois choveu a noite e o frio foi intenso. Na noite seguinte fiquei em um hotel na beira da estrada para poder secar tudo e tomar um banho merecido. A televisão e a internet por final me convenceram que acampar durante este trecho que estava sozinho não seria a opção principal.
Minha rotina se resumia a subir na moto pela manha apos um café rápido, paradas para abastecer, e a noite alimentava o meu blog com textos, fotos e vídeos. Era a minha conexão com o mundo, o meu bate papo com as pessoas que me acompanhavam virtualmente.
A primeira cidade mais interessante neste trecho foi Milwaukee. Já na chegada da cidade por um viaduto enorme se vê o museu da Harley Davidson e a beira do lago o museu de arte feito pelo Santiago Calatrava. Fiquei cerca de duas horas explorando a estrutura magnífica do museu e seus arredores com praias de areia branca, bosques imaculados e praças cheias de crianças brincando.
Meu próximo destino era o Yellowstone National Park e o Old Faithfull – provavelmente o gêiser mais conhecido do mundo. não tinha idéia o que tinha entre Milwaukee e o parque então pedi que me dessem sugestões no meu blog. Ai que surgiu o Bad Lands National Park com sua topografia lunar e cores metálicas. Honestamente achei este parque mais interessante do que o Yellowstone National Park com seus intermináveis pinhos, alces, e bisontes. Entre estes dois parques cruzei pelas estradas mais retas e inóspitas que já havia passado. Horas a fio vendo plantações de milho e postos de gasolina.
Minha idéia seria ir ate São Francisco e depois descer a costa da Califórnia mas a previsão do tempo era de neve portanto no Yellowstone mudei meu rumo para o Sul em direção a Las Vegas e Los Angeles passando por Salt Lake City. Chegando em Las Vegas paro para checar meus emails e descansar um pouco. Para minha surpresa um primo meu estava lá e viu que eu estava chegando pois no meu blog tinha um mapa com a minha posiação atualizada a cada meia hora.
Depois de um agradável segui para o Death Valley aonde o Marc, que fez o restante da viagem comigo, me encontrou para testar um pouco a sua moto. E realmente precisava ser testada. Ele havia comprado a moto dois anos antes para fazer esta viagem mas o seu companheiro de viagem não pode ir. Em rota a Los Angeles percebemos que a suspensão traseira da moto dele estava vazando óleo. “No problem”, ainda estamos nos Estados Unidos!
Alguns dias depois partimos para o México – a nossa primeira de muitas fronteiras. Entramos por Tijuana sem parar. Ninguém pediu passaporte ou identificação porem sabíamos que tínhamos que fazer a imigração e importação temporária das motos. O oficial não gostou nada de termos passado batido pelo fronteira e nos disse que teríamos que voltar os 100km que havíamos percorrido no dia anterior para fazer a entrada no pais. Depois de alguma insistência de nossa parte conseguimos com que o oficial fizesse o procedimento ali mesmo.
Baja Califórnia e praticamente parte dos Estados Unidos repleta de Americanos buscando a farra mais barata Mexicana. Encontramos alguns motoqueiros neste trecho que estavam fazendo viagens similares a nossa porem geralmente com muito mais tempo. Nos estávamos com data de chegada marcada enquanto a maioria dos outros aventureiros tinham planejado um ano ou dois de aventura.
Para chegar no México continental tivemos que pegar uma balsa que só tinha um motor funcionando. Em vez de 8 horas de travessia foram 16 horas. Dormimos no convés ao céu aberto acordando com o sol na cara. Gostoso estar no mar. Me fez lembrar de uma outra aventura que fiz – também dos Estados Unidos para o Brasil – de veleiro, via Portugal. O mar aberto nessa aventura eram as estradas.
O México e muito maior do que se imagina. A costa tem ondas inacreditáveis para o surf e a infra-estrutura para turismo e impressionante e variada. Ficamos em algumas vilas de surfista aonde não havia eletricidade mas também em mega resorts com carrinhos elétricos para levar os hospedes aos quartos.
Decidimos descer o México pela costa e não entrar no caos da capital. Depois de passar por nomes conhecidos como Puerto Vallarta e Acapulco, chegamos ao sul do México aonde entramos para o interior rumo a maior ruína Maya do México – Palenque. Nossa primeira parada realmente turística foi interessante e impressionante principalmente na sofisticação da cultura que existiu la.
Seguimos então para Belize que achamos que seria um dos pontos altos da viagem. O pais estava em estado de calamidade publica. As fortes chuvas inundaram o pais inteiro. Passamos por kilometros de estradas submersas, industrias e casas com água ate a janela. A capital não tinha sido afetada pelas enchentes mas sim por um aparente abandono ou pouco caso do governo e da população. Descobrimos que para ver a parte boa de Belize era necessário ir as ilhas da costa. Isso implicaria perder alguns dias para ficar em resorts caríssimos e deixar as motos em algum estacionamento.
Resolvemos seguir para Guatemala no dia seguinte. Foi o pais que mais me surpreendeu com 22 línguas distintas, uma topografia variada e rica e um povo muito amável e acolhedor. Um dos dias mais memoráveis da viagem foi entre uma cidadezinha chamada Coban e Panajachel – Lago Atitlan – que esta concorrendo para ser uma das novas maravilhas naturais do mundo. Pegamos estradas secundarias, montanhas íngremes, estradas em construção, um caminhão capotado e paisagens de tirar o fôlego.
No dia seguinte chegamos em Antigua – uma cidade colonial muito bem conservada e com restaurantes magníficos. Foi um dia de presidentes Americanos. Ficamos em um pousada que já havia recebido o Bill Clinton e naquela noite fomos a um bar para assistir a vitoria de Barack Obama. Me marcou o fato de estarmos bastante desconectados do mundo em geral. Líamos poucos jornais e estávamos na nossa própria bolha econômica sem sentir os efeitos da crise que estava chegando.
Próximo destino foi Guatemala City aonde encontrei com um amigo da faculdade. Na seqüência entramos em El Salvador e fomos direto par San Salvador, aonde um motoqueiro que conhecemos através da internet nos acolheu mostrando um pouco da cidade enquanto a moto do Marc trocava óleo e verificava alguns itens. Ao contrario do que se pensa, El Salvador hoje em dia e um pais muito pacifico e relativamente estável com a injeção de dinheiro Americano.
Passamos então pela pior fronteira da viagem inteira – El Salvador para Honduras. Eu achava que estava acostumado com a corrupção e o jeitinho de fazer as coisas no Brasil. Fiquei impressionado com o esquema assaltante desta fronteira. Exigem mais de 10 copias de documentos, tentam impor multas por não preencher os formulários corretamente, e não fazem o que tem que fazer se não der uma gorjeta. Foram quase 4 horas de burocracia e negociações para entrar. O agravante psicológico era que iríamos cruzar o pais em 2 horas e entrar na Nicarágua no mesmo dia! Felizmente a fronteira de Honduras para Nicarágua foi agradabilíssima e rápida. Vai entender!
Chegamos em Granada aonde encontramos vários motoqueiros. Estávamos estranhando que não víamos muitos na estrada. Ai percebemos que éramos nos que não ficávamos em nenhuma cidade mais do que uma noite. Fizemos amizade com um casal de Argentinos que estavam indo de Nova Iorque para Buenos Aires. Produtores de vídeo, montaram duas câmeras que gravavam a viagem deles por completo. Uma câmera apontada para frente e outra para trás. A idéia e de se montar uma instalação aonde o filme e passado em tempo real. 3 meses de duração. Fiquei fascinado com o conceito do projeto e especialmente todo o equipamento que montaram para gravar tudo. HDs montados em paralelo no top case da moto e câmeras acionadas quando a moto e ligada. Seguimos a viagem com eles por mais dois dias mas nos separamos quando eles decidiram ficar alguns dias a mais em San Juan Del Sur.
Costa Rica não e considerada parte da America Central pelos países vizinhos. Nota-se imediatamente que o pais e uma maquina turística muito bem estruturada. A vegetação e mais rica e luxuosa. As montanhas mais altas. As praias mais bonita. Realmente um pais para o qual eu voltaria. Paramos em San Juan para trocar o pneu e óleo da minha moto. A revenda da KTM era muito bem estruturada e fizeram as trocas em tempo recorde para minha surpresa.
Panamá foi o próximo pais pelo qual passamos. Fomos visitar uma amiga do Marc que faz parte do Peace Corps – uma organização Americana que implementa projetos sociais em países em desenvolvimento. Foi uma experiência única ficar em uma aldeia na montanha que sobrevive da agricultura. Foi também o nosso primeiro dia de folga desde que partimos de Los Angeles. Fomos a praia e descansamos um pouco.
Chegamos então na Cidade do Panamá aonde começamos o árduo processo de enviar as motos por avião a Bogotá. não existe estrada entre o Panamá e a Colômbia. Dizem que por razoes ecológicas, climáticas e do terreno a Rodovia Pan-americana, que liga o Alaska e o extremo sul do Chile, não foi construída neste trecho. Eu acredito que por razoes políticas e por forca do cartéis de droga, a estrada não foi completada. Dizem que e uma região aonde os traficantes tem seus refúgios e esconderijos.
Alguns dias depois e muitas horas burocráticas, estávamos em Bogotá, Colômbia com as motos novamente. Militares por todas as partes patrulhando a cidade e as estradas. Todos motoqueiros São obrigados a usar jaquetas com o numero da placa da moto. Garupa só se for mulher. Leis que passaram para reduzir o numero de assaltos feitos com motocicletas. Decidimos por não seguir essa lei pois se via com facilidade que éramos dois gringos malucos passeando pelo pais.
Fomos para Medellín pois disseram que as mulheres mais lindas do mundo estavam la. Lindo mesmo foi a estrada de Bogotá ate la e a cidade em si. Com certeza o povo Colombiano e muito bonito mas Marc e eu concordamos que São Paulo e Nova Iorque ainda detém o status das mulheres mais lindas. Um fato curioso foi que as mulheres em Medellín em geral tinham bustos muito avantajados, e naturais. Chegamos a conclusão que havia algo na água que tomam la. Virou a nossa piada ou código para dizer que havia alguma mulher interessante no recinto. A Colômbia deteve porem o titulo do meu pais favorito na viagem. As paisagens São maravilhosas, o povo e sempre sorridente, quer ajudar, e em nenhum momento sentimos que estávamos correndo qualquer tipo de risco. Obviamente não viajamos a noite e sempre íamos para cidades e ficávamos em hotéis.
Entrando no Equador passamos novamente pela fronteira sem parar. não havia ninguém la – achávamos que existiria algum ponto mais adiante aonde poderíamos fazer a imigração – não tinha. Tivemos que resolver isso já na fronteira com o Peru – a segunda pior fronteira que passamos. A nossa visita ao Equador foi um pouco estendida pois o motor de arranque do Marc pifou. Em Quito encontramos uma concessionária da BMW que nos atendeu muito bem mas com aquela frieza Alemã. Notável a diferença entre as concessionárias da BMW e KTM. Na KTM se vê que quem trabalha la também anda de moto. Sempre nos recebiam com energia e curiosidade pela viagem. Na BMW éramos sempre atendidos por pessoas com casacos de laboratório branco que nem perguntavam de onde vínhamos ou para onde estávamos indo… éramos somente mais um cliente.
O norte do Peru foi a parte que menos que menos gostei da viagem inteira. O Peru e dividido em 3 partes – o deserto, as montanhas e a selva. Foram dias vendo nada mais do que deserto e vilarejos de extrema pobreza. Para compensar a comida era excelente – saborosa, variada e colorida. Experimentamos de tudo – inclusive um drink com ovo cru. No dia seguinte decidimos explorar as montanhas um pouco. Chegamos a base da montanha as 4 da tarde. Tínhamos apenas 60 kilometros ate Huaraz, no topo da montanha. Decidimos seguir em frente. O visual era espetacular. A estrada uma maravilha, cheia de curvas sinuosa e um asfalto perfeito. Depois de 10 kilometros de puro êxtase o asfalto acabou. A luz do dia e o oxigênio também – estávamos chegando nos 4 mil metros de altura e o sol se pois. O drink de ovo cru começou a fazer efeito. Ficou frio e não conseguíamos ir mais rápido do que 10 a 20 kilometros por hora. Estávamos tão exaustos quando chegamos em Huaraz que o policial que nos parou nem quis ver os documentos – chamou um Taxi para nos acompanhar ate um hotel.
Passamos o dia seguinte inteiro dentro do quarto do hotel passando mal da combinação do ovo cru e da altitude. Mandaram ate um enfermeiro para ver o que estava acontecendo. Tomamos um remédio e nos hidratamos com chá de folha de coca e Inka Cola – a Coca-Cola local. 5 rolos de papel higiênico depois partimos na manha seguinte rumo a Lima, uma cidade aonde vários cômodos das casas simplesmente não tem teto. não chove la. Completamente seco. E não muito bonito.
A viagem começou a ficar mais turística de Lima em diante. Fomos ver as misteriosas linhas de Nazca – desenhos enormes no chão que se vem bem de longe – e logo fomos para Machu Pichu, definitivamente um dos pontos altos da viagem. Fiquei novamente impressionado com a riqueza cultural que existia ali e como sabemos pouco sobre eles. Indescritível o tamanho do lugar e dificuldade de chegar ate la, muito mais construir aquela cidade no topo de uma montanha muito íngreme.
Em Cuzco, uma cidade muito charmosa, encontramos com um outro Brasileiro que estava ha dois anos percorrendo a America Latina de bicicleta, vivendo da contribuição de pessoas ao longo do caminho. Fez a nossa aventura parecer uma brincadeira de criancinha rica. Ajudamos ele com um pouco de dinheiro que tínhamos na carteira e seguimos em direção a Bolívia.
Chegando no hotel em Puno no Lago Titicaca – o lago navegável mais alto do mundo – a minha moto simplesmente desligou e na ligava mais. Desespero total. As concessionárias KTM mais próximas estavam em Lima e Santiago – dias de viagem. Depois de desmontar a moto inteira vi que os fios que ligam o alternador com a bateria estavam quebrados. Aprendi que se deve lavar a moto sempre que você entra na lama. A lama secou em volta dos fios, fez peso e com a vibração acabou rompendo os fios! Encontrei um mecânico elétrico que soldou os fios que eu havia remendado e pudemos seguir para a Bolívia.
Neste ponto tínhamos que decidir se iríamos ao Salar de Uyuni – o maior lago de sal do planeta. Agora também sabemos que e a maior reserva de lítio do planeta também mas nosso amigo Evo Morales não quer que seu pais seja saqueado então não esta permitindo a exploração deste recurso que esta se tornando cada vez mais valioso. Política a parte vimos que não daria tempo de passar pelo Salar – atrasaria a nossa chegada no Brasil em mais de uma semana.
Viramos então para o Chile, o pais mais “civilizado” da America do Sul. Vimos isso na fronteira. Fizemos a imigração e a importação temporária das motos e seguimos em frente. 20 kilometros depois fomos parados pois não havíamos pego algum selo necessário. Voltamos tudo e para nossa surpresa levamos uma bronca seria do oficial dizendo que não passamos pela fiscalização de alimentos e produtos orgânicos e nem pela vistoria policial. Nos haviam dito que podíamos seguir em frente e seguimos, explicamos. não teve jeito. Nos autuou e disse que tínhamos que ir para Iquique nos explicar ao juiz que decidiria qual seria nossa punição.
No caminho para Iquique a minha moto fica bamba. Pneu traseiro furado! Desmontei a roda e comecei a trocar a câmera de ar mas devido a minha inexperiência furei a câmera! Já havia escurecido e estávamos empurrando a moto para trás de uns arbustos. Eu iria na garupa do Marc ate a cidade para comprar outra câmera de ar. Para nossa sorte passaram uns motoqueiros que nos socorreram – foram ate a casa deles e voltaram com uma pick-up! Insistiram que ficássemos na casa deles mas preferimos ficar em um hotel para não incomodar. então nos emprestaram um carro para circular pela cidade! O Carlos, o pai da família, já havia feito uma viagem de moto pelo Brasil e o ajudaram muito. Ele estava retribuindo o favor. Queria retribuir o favor a ele também – ele simplesmente disse que eu deveria ajudar um motoqueiro em apuros algum dia. Fantástico.
Aparecemos na sessão com o juiz. Explicamos que nos orientaram mal sobre os procedimentos de fronteira e que não tínhamos nenhuma intenção de burlar o sistema. Para a nossa surpresa ela falou que era um problema recorrente e que queria detalhes sobre o que passou por que eles obviamente tinham um problema de comunicação entre os vários setores da fronteira! Penalidade zero!
Chegamos então a San Pedro do Atacama, um lugar mágico e uma beleza extra-terrestre. E considerado o lugar mais seco do mundo. não chove ha séculos ali. Ficamos dois dias la que inclui passeios no deserto no estilo Dakar verdadeiro. Uma delicia tirar as malas da moto e dar um “role” leve, sem destino, só para se divertir.
De la cruzamos o ponto mais alto da viagem – o Passo de Jama – 4800 metros de altura – espetacular. Tivemos que levar um tanque de combustível extra pois a distancia entre os postos de gasolina eram grandes. Tudo correu conforme o previsto e chegamos na Argentina. Ficamos impressionados com a beleza do povo. Mesmo em cidadezinha remotas entre centros urbanos maiores víamos homens e mulheres com traços finos e elegantes.
Depois de alguns dias de retas intermináveis e um calor infernal chegamos a Foz de Iguaçu! Emocionante chegar no Brasil, falar Português, comer pão de queijo, pastel, churrasco e tudo de bom que o Brasil tem para oferecer. Coisas que apreciamos somente quando saímos do pais por um tempo. As cataratas e uma dessas coisas. Nunca havia nem cogitado em ir vê-las quando morava em São Paulo. Vale muito a pena. Impressionante pelo tamanho, beleza, forca e da estrutura turística existente ali.
Em Londrina encontramos com dois primos meus que foram de moto nos encontrar de São Paulo. Fomos para Campinas aonde na manha seguinte mais 10 motoqueiros se juntaram ao comitê de recepção. Muito engraçado estar de repente rodeado de outras motos e amigos já bem perto de casa.
A chegada foi bastante emocional – não conseguia para de rir – de ver a Marginal, o transito de São Paulo e finalmente a casa do meu pai aonde mais vários amigos estavam esperando para nos recepcionar. Fantástico!
Acho que só se realiza o tamanho da aventura quando se chega. Durante a aventura você esta la vivendo um dia atrás do outro – e a sua realidade – normal e as vezes ate cansativa. você se pega tentando lembrar por que mesmo que você decidiu sair do conforto de sua casa e pegar a estrada. A resposta é sempre a mesma… por que não?